As Tecnologias da Informação e da
Comunicação na
Educação Especial
Segundo Lévy (1999) as Tecnologias de Informação e Comunicação estão a
tornar-se, de forma crescente, importantes instrumentos da nossa cultura e a
sua utilização constitui um meio concreto de inclusão e de interação com o
mundo.
A multimédia e as novas tecnologias são uma realidade inegável na nossa
sociedade, fazendo parte do nosso quotidiano. A modificação que se operou na
ciência nos últimos dez anos, e nomeadamente o operado ao nível das
tecnologias, é de tal forma que temos de repensar uma série de atitudes que
suportam decisões e determinam, em certa medida, oportunidades e formas de
vida. O tecnológico cada vez mais interfere com as decisões que ao longo do dia
vamos fazendo, desde as coisas mais elementares às mais sofisticadas. Particularmente, nos alunos com
Necessidades Educativas Especiais, a literatura evidencia um consenso quanto ao
inestimável contributo que as TIC estão a dar à reabilitação, quer na área do
desenvolvimento cognitivo e psicomotor, quer como meio alternativo de
comunicação, quer ainda como meio facilitador da realização de uma determinada
tarefa.
As TIC estão a tornar-se, de forma crescente, importantes instrumentos da
nossa cultura e a sua utilização um meio concreto de inclusão e interação com o
mundo. Neste sentido, podem ser um instrumento de grande utilidade uma vez
facilitam uma aprendizagem construtiva e novos modelos de ensinar e aprender
tanto para os alunos das classes regulares como para os alunos da educação
especial favorecendo assim a sua inclusão. O conceito de flexibilidade permite
adequar os equipamentos às necessidades de cada utilizador para a realização
das suas capacidades, ou seja, visa o seu bem-estar e a sua autonomia. Esta
mudança de perspetiva implica que se desenvolvam tecnologias compatíveis com as
competências e capacidades dos utilizadores de modo a permitir o aumento da sua
qualidade de vida. Porém, é importante saber usar as TIC, pois elas só estarão
incluídas, de facto, no currículo dos alunos com necessidades educativas
especiais quando o seu potencial for entendido como ferramenta para a
aprendizagem. Para muitas crianças e jovens com necessidades educativas
especiais, as TIC constituem uma plataforma fundamental, no
desenvolvimento da linguagem e da escrita permitindo-lhes comunicar com o mundo
que as rodeia. Para outras pode ser um suporte nas atividades a desenvolver na
escola. O computador pode ser utilizado como comunicador, complementando certas
funções, facilitando o processo ou fornecimento de informação para as pessoas
com condições de deficiência severa. (Rodrigues 2001). As diferentes
modalidades de uso do computador em educação têm o objetivo nuclear de atender
diferentes interesses educacionais.
A tecnologia de apoio, adiante denominada de TA, é todo o dispositivo,
equipamento, ou parte de equipamento, modificado ou personalizado usado para
aumentar, manter, ou melhorar as capacidades funcionais de uma criança ou jovem
com condições de deficiência, ou seja, toda a ferramenta ou recurso utilizado
com a finalidade de proporcionar uma maior independência e autonomia. Em
Portugal, como noutros países, é muitas vezes utilizada a expressão “ajudas
técnicas” para designar as TIC ou as TA, quando postas ao serviço dos alunos
com necessidades educativas especiais. Tanto as TIC como as TA, sejam elas alta
tecnologia ou baixa tecnologia, podem sempre ser um fator facilitador de
independência, integração e igualdade de oportunidades, para a pessoa portadora
de deficiência. Se desenvolvidas e usadas adequadamente, possibilitam-lhe a
execução das atividades/tarefas com que diariamente se defronta.
As baixas tecnologias podem ser um simples lápis, utensílios adaptados ou
uma tabela/tabuleiro de comunicação que possibilita uma rápida e fácil ajuda
para a comunicação. As altas tecnologias, como por exemplo um dispositivo eletrónico
de comunicação ou um computador, oferecem ao utilizador sofisticação na escolha
do vocabulário, rapidez de comunicação e flexibilidade de acesso.
Morato (1993) aponta-as como recurso reabilitativo, por vezes único, numa
população com severas disfunções motoras, pela possibilidade de acesso ao
desenvolvimento, à escola, ao trabalho, enfim à vida num mundo, até ao momento,
muito pobre em recursos compensatórios. Na realidade, as TIC poderão
constituir-se como:
·
Uma substituição de todo um sistema de “output”,
comprometido na pessoa deficiente motora;
·
Um sistema alternativo de comunicação para a
pessoa com problemas nesta área;
·
Uma hipótese de controlo de ambiente, tornando o
incapacitado severo menos dependente;
·
Uma hipótese de acesso à educação e ao trabalho;
·
Uma alternativa de contactos com o
exterior/comunidade.
A tecnologia informática possibilita a aprendizagem simultânea da
utilização das novas tecnologias, bem como um envolvimento mais ativo do aluno
no processo de aprendizagem. O computador possibilita o acesso a vários
materiais, que vão permitir:
·
Explorar, criar, solucionar problemas, arriscar
hipóteses;
·
Desenvolver a criatividade;
·
Motivar o aluno e ajudá-lo a melhorar a
qualidade do seu trabalho;
·
Ajudar o discente a assumir um certo grau de
responsabilidade pela sua educação contribuindo para que alcance autonomia.
O trabalho a ser desenvolvido com uma criança com necessidades educativas
especiais utilizando o computador, exige do professor um conhecimento das suas
capacidades, de forma a determinar o seu perfil educacional. Deverá elaborar um
currículo planificando todas as suas ações, para posteriormente avaliar a sua
eficácia e assim promover a sua inclusão. Assim, o computador permite uma
aprendizagem interativa e uma progressão constante: “Pode contribuir, para o desenvolvimento de capacidades, sejam elas
cognitivas, motoras, de linguagem ou de pré-requisitos para as aprendizagens
escolares. (Rodrigues, 1988 citado por Correia 1997). Pode também constituir um
meio de implicação dos pais no processo de aprendizagem aumentando a
compreensão das necessidades dos seus filhos. (Correia (1997).
A utilização das novas tecnologias, em conjunto com outras estratégias,
tem-se revelado um bom contributo no processo de ensino-aprendizagem. O
computador como instrumento educativo criou muitas expectativas em relação às
suas potencialidades. No entanto as TIC, embora possam conter, sem sombra de
dúvida, potenciais respostas para a pessoa com necessidades educativas
especiais, por si só, não constituem uma solução e para funcionarem precisam de
ter vários aspetos resolvidos.
·
Determinação das necessidades de momento das
pessoas com deficiência;
·
Levantamento das capacidades funcionais do
indivíduo;
·
Seleção do melhor equipamento disponível, em
função das avaliações anteriores;
·
Estabelecimento de uma correta mediatização do
adulto com o indivíduo e com o equipamento.
Este último aspeto tem, por seu turno, implicações específicas, já que ao
professor que acompanha a criança deficiente são exigidos conhecimentos ao
nível do material e dos ambientes pedagógicos a organizar, de acordo com as
necessidades do sujeito com que se trabalha. É portanto, fundamental que lhe
seja fornecido um suporte, ao nível da formação, da atualização e manutenção do
equipamento.
Qualquer situação de aprendizagem exige uma mediatização pois só ela
permite o acesso a funções cognitivas superiores. Segundo Rodrigues (1989), o
professor é fundamental na mediatização. O aluno sozinho explora o computador
abaixo dos seus níveis de planeamento.
Não obstante o consenso sobre o benefício dos computadores no trabalho
com pessoas portadoras de deficiência, há também questões limitativas de um
acesso dessa população a este recurso. Essas questões têm várias origens
mostrando por si só o quão oportuno é referenciar neste trabalho algumas dessas
limitações:
·
As TIC têm multivalências e são dispendiosas,
sendo fundamental estabelecer um critério de escolha no hardware a adotar e no
vasto leque de software existente, que vai desde os programas tutoriais, aos
programas vocacionais para o ensino assistido por computador, até aos que
promovem toda a criatividade explorando ligações interativas, não-verbais;
·
A atitude do professor no geral e do professor
de educação especial, em particular, tem particular relevo nesta área, sendo
marcante a forma como é capaz de redimensionar a sua intervenção junto desta
população, utilizando as TIC como recurso base de intervenção;
·
O professor vai ter que posicionar-se numa
atitude de aprendizagem, o que poderá gerar insegurança, levando-o a “resistir”
à alteração das suas estratégias pedagógicas, embora algumas delas já
intimamente reconhecidas como insuficientes e pouco operantes neste tipo de
alunos. A formação de professores ou outros agentes que trabalham com população
com necessidades educativas especiais terá, necessariamente, que abranger áreas
que aumentem a sua competência no manuseamento das novas tecnologias, ajudando
a destruir resistências inibidoras a novas atitudes e ao aproveitamento daquilo
que outros ramos da Ciência, podem pôr ao seu serviço;
·
A atribuição de um computador a um aluno com
necessidades educativas especiais, por si só, não modifica a essência do problema.
Se este ato não for acompanhado por outros atos pedagógicos, que de certo modo
alterem a rotina não só dos alunos com deficiência, como dos professores que o
acompanham, assim como da própria escola, isto não passará de um ato isolado
sem qualquer consequência para o aluno onde é urgente a aplicação deste meio de
aprendizagem;
·
O equipamento na maioria das vezes, não modifica
por si só nada, o que modifica é a atitude das pessoas que poderão mediatizar
esse equipamento. Ele somente cria potencialidades para a mudança.
A tecnologia existe, é imparável, altera hábitos, agita o
preestabelecido, mas também é sabido que ao longo de toda a história, houve
sempre resistência a mudanças, ao novo, pela destabilização que esse novo
provoca e pela necessidade de reconhecer que de muito se sabe muito pouco.
Deste modo, a introdução das TIC no trabalho com uma população portadora de
deficiência, apesar de se reconhecer a sua pertinência, está também dependente
dessas resistências e das crenças dos sistemas onde ela está inserida, por mais
lógicas que essas mudanças sejam, por mais que, teoricamente, se proclame o
direito à inclusão.
É urgente um redimensionamento dos problemas para, à luz de uma nova
atitude mental, se procurarem novas soluções, dentro do leque real das
possibilidades que existem e que eram impensáveis há uma decaída atrás,
possibilitando olharmos as pessoas com deficiência, mais através das suas
possibilidades e capacidades, do que das suas disfunções e incapacidades.
Em jeito de conclusão podemos dizer que a escola constitui um meio facilitador das intervenções e comunicações da criança com o meio envolvente e, consequentemente, favorece a sua integração na sociedade. É considerada por muitos como modelo preferencial para a educação de crianças e jovens com necessidades educativas especiais. Assim temos de ter em conta que esta recebe uma diversidade de alunos e deve estar preparada para lhes oferecer uma diversidade de opções pois não tem como função única a transmissão de saberes, mas também responsabilidades na promoção do desenvolvimento psicossocial, na valorização do ensino e aprendizagem e na construção do conhecimento.
No nosso universo escolar, sempre existiram alunos com maiores dificuldades ou facilidades na aprendizagem. Cabe, portanto, ao sistema educativo e aos professores organizarem respostas que facilitem a aprendizagem de todos os alunos. Para responder a estas necessidades e tendo sempre como horizonte o desenvolvimento global do aluno, a atuação educacional exige uma escola aberta, em interação com o contexto em que está inserida, assim como a redefinição de papéis e funções dos professores e em especial dos professores de apoio educativo. Estes, devem ter formação especializada de forma a melhor poderem responder às dificuldades que a escola inclusiva encerra em si, bem como sensibilizarem os professores do ensino regular para a aceitação positiva dos alunos com necessidades educativas especiais, ajudando-os com sugestões pertinentes e oportunas no trabalho com este grupo de discentes.
Bautista, R (coord.) (1997). Necessidades Educativas Especiais.Lisboa: Dinalivro.
Correia, L. M. (2008). Inclusão e Necessidades Educativas
Especiais: Um guia para educadores e professores.Porto: Porto Editora
Morato, P. (1993). Deficiência Mental
e Aprendizagem. Estudo dos Diferentes Ambientes de Aprendizagem na aquisição de
Conceitos Espaciais em Crianças com Trissomia 21. Tese de Doutoramento UTL
– FMH Lisboa
Pennington, Bruce P. (1997). Diagnóstico de distúrbios da aprendizagem. S. Paulo: Editora Pioneira.
Perrenoud, P.H. (1993). Práticas Pedagógicas, Profissão Docente e Formação: Perspectivas Sociológicas: Lisboa D. Quixote.
Rodrigues, R. (2001). Práticas pedagógicas em contextos de
inclusão escolar de crianças do espectro do autismo - estudo exploratório.
Monografia de Licenciatura em Psicologia Educacional : Lisboa I.S.P.A
Sem comentários:
Enviar um comentário