“Se perdesse todas as minhas capacidades, todas menos uma, escolheria ficar com a capacidade para comunicar porque com ela depressa recuperaria tudo o resto.”

Daniel Webster

Reflexão


As Tecnologias da Informação e da Comunicação na Educação Especial

Segundo Lévy (1999) as Tecnologias de Informação e Comunicação estão a tornar-se, de forma crescente, importantes instrumentos da nossa cultura e a sua utilização constitui um meio concreto de inclusão e de interação com o mundo.

A multimédia e as novas tecnologias são uma realidade inegável na nossa sociedade, fazendo parte do nosso quotidiano. A modificação que se operou na ciência nos últimos dez anos, e nomeadamente o operado ao nível das tecnologias, é de tal forma que temos de repensar uma série de atitudes que suportam decisões e determinam, em certa medida, oportunidades e formas de vida. O tecnológico cada vez mais interfere com as decisões que ao longo do dia vamos fazendo, desde as coisas mais elementares às mais sofisticadas. Particularmente, nos alunos com Necessidades Educativas Especiais, a literatura evidencia um consenso quanto ao inestimável contributo que as TIC estão a dar à reabilitação, quer na área do desenvolvimento cognitivo e psicomotor, quer como meio alternativo de comunicação, quer ainda como meio facilitador da realização de uma determinada tarefa.

As TIC estão a tornar-se, de forma crescente, importantes instrumentos da nossa cultura e a sua utilização um meio concreto de inclusão e interação com o mundo. Neste sentido, podem ser um instrumento de grande utilidade uma vez facilitam uma aprendizagem construtiva e novos modelos de ensinar e aprender tanto para os alunos das classes regulares como para os alunos da educação especial favorecendo assim a sua inclusão. O conceito de flexibilidade permite adequar os equipamentos às necessidades de cada utilizador para a realização das suas capacidades, ou seja, visa o seu bem-estar e a sua autonomia. Esta mudança de perspetiva implica que se desenvolvam tecnologias compatíveis com as competências e capacidades dos utilizadores de modo a permitir o aumento da sua qualidade de vida. Porém, é importante saber usar as TIC, pois elas só estarão incluídas, de facto, no currículo dos alunos com necessidades educativas especiais quando o seu potencial for entendido como ferramenta para a aprendizagem. Para muitas crianças e jovens com necessidades educativas especiais, as TIC constituem uma plataforma fundamental, no desenvolvimento da linguagem e da escrita permitindo-lhes comunicar com o mundo que as rodeia. Para outras pode ser um suporte nas atividades a desenvolver na escola. O computador pode ser utilizado como comunicador, complementando certas funções, facilitando o processo ou fornecimento de informação para as pessoas com condições de deficiência severa. (Rodrigues 2001). As diferentes modalidades de uso do computador em educação têm o objetivo nuclear de atender diferentes interesses educacionais.

A tecnologia de apoio, adiante denominada de TA, é todo o dispositivo, equipamento, ou parte de equipamento, modificado ou personalizado usado para aumentar, manter, ou melhorar as capacidades funcionais de uma criança ou jovem com condições de deficiência, ou seja, toda a ferramenta ou recurso utilizado com a finalidade de proporcionar uma maior independência e autonomia. Em Portugal, como noutros países, é muitas vezes utilizada a expressão “ajudas técnicas” para designar as TIC ou as TA, quando postas ao serviço dos alunos com necessidades educativas especiais. Tanto as TIC como as TA, sejam elas alta tecnologia ou baixa tecnologia, podem sempre ser um fator facilitador de independência, integração e igualdade de oportunidades, para a pessoa portadora de deficiência. Se desenvolvidas e usadas adequadamente, possibilitam-lhe a execução das atividades/tarefas com que diariamente se defronta.

As baixas tecnologias podem ser um simples lápis, utensílios adaptados ou uma tabela/tabuleiro de comunicação que possibilita uma rápida e fácil ajuda para a comunicação. As altas tecnologias, como por exemplo um dispositivo eletrónico de comunicação ou um computador, oferecem ao utilizador sofisticação na escolha do vocabulário, rapidez de comunicação e flexibilidade de acesso.

Morato (1993) aponta-as como recurso reabilitativo, por vezes único, numa população com severas disfunções motoras, pela possibilidade de acesso ao desenvolvimento, à escola, ao trabalho, enfim à vida num mundo, até ao momento, muito pobre em recursos compensatórios. Na realidade, as TIC poderão constituir-se como:

·      Uma substituição de todo um sistema de “output”, comprometido na pessoa deficiente motora;


·      Um sistema alternativo de comunicação para a pessoa com problemas nesta área;

·      Uma hipótese de controlo de ambiente, tornando o incapacitado severo menos dependente;


·      Uma hipótese de acesso à educação e ao trabalho;


·      Uma alternativa de contactos com o exterior/comunidade.


A tecnologia informática possibilita a aprendizagem simultânea da utilização das novas tecnologias, bem como um envolvimento mais ativo do aluno no processo de aprendizagem. O computador possibilita o acesso a vários materiais, que vão permitir:

·      Explorar, criar, solucionar problemas, arriscar hipóteses;


·      Desenvolver a criatividade;


·      Motivar o aluno e ajudá-lo a melhorar a qualidade do seu trabalho;

·      Ajudar o discente a assumir um certo grau de responsabilidade pela sua educação contribuindo para que alcance autonomia.

O trabalho a ser desenvolvido com uma criança com necessidades educativas especiais utilizando o computador, exige do professor um conhecimento das suas capacidades, de forma a determinar o seu perfil educacional. Deverá elaborar um currículo planificando todas as suas ações, para posteriormente avaliar a sua eficácia e assim promover a sua inclusão. Assim, o computador permite uma aprendizagem interativa e uma progressão constante: “Pode contribuir, para o desenvolvimento de capacidades, sejam elas cognitivas, motoras, de linguagem ou de pré-requisitos para as aprendizagens escolares. (Rodrigues, 1988 citado por Correia 1997). Pode também constituir um meio de implicação dos pais no processo de aprendizagem aumentando a compreensão das necessidades dos seus filhos. (Correia (1997).


A utilização das novas tecnologias, em conjunto com outras estratégias, tem-se revelado um bom contributo no processo de ensino-aprendizagem. O computador como instrumento educativo criou muitas expectativas em relação às suas potencialidades. No entanto as TIC, embora possam conter, sem sombra de dúvida, potenciais respostas para a pessoa com necessidades educativas especiais, por si só, não constituem uma solução e para funcionarem precisam de ter vários aspetos resolvidos.

·       Determinação das necessidades de momento das pessoas com deficiência;

·         Levantamento das capacidades funcionais do indivíduo;


·         Seleção do melhor equipamento disponível, em função das avaliações anteriores;


·         Estabelecimento de uma correta mediatização do adulto com o indivíduo e com o equipamento.

Este último aspeto tem, por seu turno, implicações específicas, já que ao professor que acompanha a criança deficiente são exigidos conhecimentos ao nível do material e dos ambientes pedagógicos a organizar, de acordo com as necessidades do sujeito com que se trabalha. É portanto, fundamental que lhe seja fornecido um suporte, ao nível da formação, da atualização e manutenção do equipamento.
Qualquer situação de aprendizagem exige uma mediatização pois só ela permite o acesso a funções cognitivas superiores. Segundo Rodrigues (1989), o professor é fundamental na mediatização. O aluno sozinho explora o computador abaixo dos seus níveis de planeamento.
Não obstante o consenso sobre o benefício dos computadores no trabalho com pessoas portadoras de deficiência, há também questões limitativas de um acesso dessa população a este recurso. Essas questões têm várias origens mostrando por si só o quão oportuno é referenciar neste trabalho algumas dessas limitações:
·        As TIC têm multivalências e são dispendiosas, sendo fundamental estabelecer um critério de escolha no hardware a adotar e no vasto leque de software existente, que vai desde os programas tutoriais, aos programas vocacionais para o ensino assistido por computador, até aos que promovem toda a criatividade explorando ligações interativas, não-verbais;


·        A atitude do professor no geral e do professor de educação especial, em particular, tem particular relevo nesta área, sendo marcante a forma como é capaz de redimensionar a sua intervenção junto desta população, utilizando as TIC como recurso base de intervenção;


·        O professor vai ter que posicionar-se numa atitude de aprendizagem, o que poderá gerar insegurança, levando-o a “resistir” à alteração das suas estratégias pedagógicas, embora algumas delas já intimamente reconhecidas como insuficientes e pouco operantes neste tipo de alunos. A formação de professores ou outros agentes que trabalham com população com necessidades educativas especiais terá, necessariamente, que abranger áreas que aumentem a sua competência no manuseamento das novas tecnologias, ajudando a destruir resistências inibidoras a novas atitudes e ao aproveitamento daquilo que outros ramos da Ciência, podem pôr ao seu serviço;


·        A atribuição de um computador a um aluno com necessidades educativas especiais, por si só, não modifica a essência do problema. Se este ato não for acompanhado por outros atos pedagógicos, que de certo modo alterem a rotina não só dos alunos com deficiência, como dos professores que o acompanham, assim como da própria escola, isto não passará de um ato isolado sem qualquer consequência para o aluno onde é urgente a aplicação deste meio de aprendizagem;


·        O equipamento na maioria das vezes, não modifica por si só nada, o que modifica é a atitude das pessoas que poderão mediatizar esse equipamento. Ele somente cria potencialidades para a mudança.

A tecnologia existe, é imparável, altera hábitos, agita o preestabelecido, mas também é sabido que ao longo de toda a história, houve sempre resistência a mudanças, ao novo, pela destabilização que esse novo provoca e pela necessidade de reconhecer que de muito se sabe muito pouco. Deste modo, a introdução das TIC no trabalho com uma população portadora de deficiência, apesar de se reconhecer a sua pertinência, está também dependente dessas resistências e das crenças dos sistemas onde ela está inserida, por mais lógicas que essas mudanças sejam, por mais que, teoricamente, se proclame o direito à inclusão.

É urgente um redimensionamento dos problemas para, à luz de uma nova atitude mental, se procurarem novas soluções, dentro do leque real das possibilidades que existem e que eram impensáveis há uma decaída atrás, possibilitando olharmos as pessoas com deficiência, mais através das suas possibilidades e capacidades, do que das suas disfunções e incapacidades.


       Em jeito de conclusão podemos dizer que a escola constitui um meio facilitador das intervenções e comunicações da criança com o meio envolvente e, consequentemente, favorece a sua integração na sociedade. É considerada por muitos como modelo preferencial para a educação de crianças e jovens com necessidades educativas especiais. Assim temos de ter em conta que esta recebe uma diversidade de alunos e deve estar preparada para lhes oferecer uma diversidade de opções pois não tem como função única a transmissão de saberes, mas também responsabilidades na promoção do desenvolvimento psicossocial, na valorização do ensino e aprendizagem e na construção do conhecimento.

      
       No nosso universo escolar, sempre existiram alunos com maiores dificuldades ou facilidades na aprendizagem. Cabe, portanto, ao sistema educativo e aos professores organizarem respostas que facilitem a aprendizagem de todos os alunos. Para responder a estas necessidades e tendo sempre como horizonte o desenvolvimento global do aluno, a atuação educacional exige uma escola aberta, em interação com o contexto em que está inserida, assim como a redefinição de papéis e funções dos professores e em especial dos professores de apoio educativo. Estes, devem ter formação especializada de forma a melhor poderem responder às dificuldades que a escola inclusiva encerra em si, bem como sensibilizarem os professores do ensino regular para a aceitação positiva dos alunos com necessidades educativas especiais, ajudando-os com sugestões pertinentes e oportunas no trabalho com este grupo de discentes. 



 Bibliografia


Bautista, R (coord.) (1997). Necessidades Educativas Especiais.Lisboa: Dinalivro.



Correia, L. M. (2008). Inclusão e Necessidades Educativas Especiais: Um guia para educadores e professores.Porto: Porto Editora

Morato, P. (1993). Deficiência Mental e Aprendizagem. Estudo dos Diferentes Ambientes de Aprendizagem na aquisição de Conceitos Espaciais em Crianças com Trissomia 21. Tese de Doutoramento UTL – FMH Lisboa




Pennington, Bruce P. (1997). Diagnóstico de distúrbios da aprendizagem. S. Paulo: Editora Pioneira.




Perrenoud, P.H. (1993). Práticas Pedagógicas, Profissão Docente e Formação: Perspectivas Sociológicas: Lisboa D. Quixote.


Rodrigues, R. (2001). Práticas pedagógicas em contextos de inclusão escolar de crianças do espectro do autismo - estudo exploratório. Monografia de Licenciatura em Psicologia Educacional: Lisboa I.S.P.A




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Concluímos, afirmando que as técnicas da Comunicação Alternativa e Aumentativa (CAA), permitem uma melhor expressão de quem tem dificuldade em exprimir-se e melhoram as relações com o mundo, pois a criança sente-se mais compreendida e aceite por quem a rodeia.




Bibliografia



Nogueira, C. (2009). Educação especial - Comunicar com crianças com paralisia cerebral. Editorial Novembro;



Outras publicações:



Comunicação, linguagem e fala, Perturbações Específicas de linguagem em contexto escolar, Ministério da Educação, 2003;



novação curricular na implementação de meios alternativos de comunicação em crianças com deficiência neuromotora grave;


Comunicação e linguagem - Sistemas Alternativos e Aumentativos da comunicação, Universidade Portucalense, 2008.

Para mais informação sobre os símbolos poderão consultar alguns sites: