“Se perdesse todas as minhas capacidades, todas menos uma, escolheria ficar com a capacidade para comunicar porque com ela depressa recuperaria tudo o resto.”

Daniel Webster

Os SAAC em alunos com Paralesia Cerebral




Considerando que a inclusão é “ um processo que se desenrola ao longo da vida de um indivíduo, e que tem como objetivo a melhoria da sua qualidade de vida” (Ladeira e Amaral,1999), a escola deve ser muito mais do que o sítio onde se aprende a ler e a escrever. Deverá ser também um local onde se aprende a viver, a participar e a respeitar os outros e onde todos os alunos, com e sem NEE devem ter como objetivo fundamental o seu sucesso na vida futura.

Assim, corroborando Mateus (2011) quando refere que qualquer criança que alcance a capacidade de comunicar se torna um sujeito aberto aos outros, que pode trabalhar e criar com eles, afirmando-se como indivíduo dentro do grupo social, foi consentâneo entre os alunos e professores da turma que, dada a impossibilidade do R. utilizar a fala como veículo da linguagem, seria importantíssimo proporcionar-lhe a utilização de meios alternativos de comunicação que possam potenciar a sua capacidade comunicativa e a sua participação, de forma adaptada, nas atividades desenvolvidas pelo grupo/turma em que está inserido. Pretende-se fundamentalmente que o meio alternativo de comunicação adaptado ao R. aumente a qualidade das interações com os seus parceiros e contribua, consequentemente, para desenvolver a sua inteligência intelectual e pessoal.

   Por outro lado, considera-se que o plano de intervenção seguidamente apresentado poderá contribuir para a criação de um ambiente educacional positivo e enriquecedor que permitirá que todos os implicados, alunos, pais, professores, comunidade, escola aprendam um pouco sobre cada um e sintam que “ todos juntos fazemos a diferença”.



A criança com Paralisia Cerebral deve ser incluída e usufruir de experiências de aprendizagem, tanto quanto possível, na escola do ensino regular. Neste sentido, devem ser adotadas um conjunto de medidas que permitam a sua adaptação de uma forma confortável e segura. Assim, é fundamental começar por avaliar quais as características da criança e as suas necessidades, para posteriormente se elaborar um plano de intervenção adequado e que proporcione os recursos necessários para uma aprendizagem plena. Isto requer, como refere Bautista (1997) que a escola seja uma entidade autónoma que gere e propicie uma organização interna capaz de acolher a diversidade.

Por outro lado, é essencial que esta intervenção se processe o mais cedo possível, visto que, de acordo com o autor, a criança responderá com maior eficácia a um tratamento precoce e que seja desenvolvido por uma equipa multidisciplinar, que atue tanto sobre os problemas motores, como sobre os problemas associados que a criança possa, eventualmente, apresentar.  

A intervenção pode ser orientada com base em diferentes aspetos como motricidade (recorre-se, por exemplo, à natação que favorece o desenvolvimento muscular e a manutenção da mobilidade articular); cirurgia ortopédica (esta deve ser evitada sempre que possível, já que implica longos períodos de imobilizações desfavoráveis ao desenvolvimento do indivíduo); terapia da fala, terapia ocupacional e fisioterapia; utilização de próteses ou outro material ortopédico quando necessário (por exemplo: cadeira de rodas). No caso das crianças impossibilitadas de comunicar através da fala deve recorrer-se a um sistema aumentativo / alternativo de comunicação ajustado às suas necessidades.




 
Plano de Intervenção de um aluno com Paralesia Cerebral


 
O plano de intervenção que seguidamente se apresenta é o resultado de uma perspetiva inclusiva da educação que confere, de acordo com Correia (2008) o direito de estar na escola a qualquer criança, incluindo as que têm deficiências graves, proporcionando-lhe a possibilidade de aumentar a capacidade de comunicação, a sua participação em diferentes atividades e oferecendo-lhe um meio menos restritivo e uma melhor qualidade de vida.
Com a finalidade de proporcionar ao R. as mesmas oportunidades de interação com o outro será realizada por toda a equipa pedagógica uma análise e reflexão cuidada acerca das estratégias a desenvolver para que o aluno, o mais rapidamente possível, possa interagir não só com os professores como com os restantes colegas e a comunidade em geral.
No caso do R. verificou-se a necessidade destas estratégias passarem pela implementação de um Sistema Alternativo e Aumentativo da Comunicação (SAAC). Com este sistema a criança terá oportunidade de expressar as suas emoções, manifestar as suas necessidades e desejos e terá acesso a uma linguagem interior e a uma organização de conceitos que irão favorecer o seu desenvolvimento cognitivo, social e emocional.
Neste sentido, será posto em marcha um plano de intervenção no âmbito da Comunicação Aumentativa e Alternativa que compreende um conjunto de ajudas e estratégias de que é exemplo o sistema SPC.
No caso do R., a turma uniu esforços para que, tão breve quanto possível, seja elaborada uma biblioteca de símbolos agrupados em várias pranchas relacionados com o dia-a-dia do R. na escola e as suas necessidades comunicativas nos diversos contextos em que se move: sala de aulas, refeitório, biblioteca e recreio.
Será igualmente redigida, coletivamente, uma carta que será enviada a várias empresas (centros de cópias) pedindo a sua colaboração para a digitalização dos símbolos e criação das pranchas SPC (impressão e plastificação) a partir dos símbolos criados pelos alunos.


Objetivos do plano de intervenção

Conforme referido anteriormente, a linguagem desempenha um papel fundamental no desenvolvimento cognitivo e emocional e é um regulador do comportamento do indivíduo.

Assim, quando uma criança está impossibilitada de comunicar através da fala devido a questões orgânicas do seu aparelho fonador, como é o caso das crianças com paralisia cerebral, ela pode, no entanto, apresentar capacidades e necessidades comunicativas se, como refere Nogueira (2009), não apresentar lesões cerebrais que as afetem do ponto de vista cognitivo e emocional. Por ser esta a situação em que o R. se encontra, no âmbito do plano de intervenção, foram definidos os seguintes objetivos:

·      promover capacidades comunicativas e linguísticas do aluno com dificuldades de comunicação;

·      promover o acesso do aluno ao currículo e a sua participação em todas as atividades;

·      melhorar a linguagem compreensiva;

·      melhorar o uso expressivo dos símbolos, de forma a haver um aumento  do vocabulário;

·      aperfeiçoar a estrutura da frase fomentando a utilização de estruturas sintáticas cada vez mais complexas;

·      promover a independência e autonomia possíveis para gerir a sua vida;

·      aumentar a autoestima do aluno, proporcionando-lhe um maior controlo sobre si mesmo;

·      desenvolver um espírito inclusivo e de cooperação entre todos os alunos da turma.




 Questões a considerar na planificação do SAAC


Quando se pretende desenvolver um SAAC devem ser consideradas algumas questões que devem ser trabalhadas pela turma antes da elaboração, no caso concreto, dos símbolos a aplicar nas pranchas SPC. Assim, sob a orientação dos professores, deverão ser alvo de reflexão com os alunos, as seguintes questões:

·      restrições motoras do R.- Num SAAC baseado em símbolos gráficos, é necessário perceber se as restrições motoras da criança condicionam a capacidade de indicar ao seu parceiro comunicativo qual o símbolo que está a selecionar[1].

·      identificação das necessidades comunicativas do R.– quais os símbolos a desenvolver em primeiro lugar. Quais os símbolos que o R. mais necessita para comunicar no contexto em que se move durante a maior parte do dia, no seu caso, a escola.

·      quais os recursos disponíveis para gerar as soluções possíveis –  que recursos existem e como ultrapassar a barreira dos que não estão imediatamente disponíveis[2].


[1] As restrições motoras do R. não condicionam totalmente a sua capacidade de indicar os símbolos gráficos. Logo, o aluno utilizará um método de seleção direta em que o utilizador aponta
[2] Neste caso poderá pedir-se a colaboração de uma empresa especializada na área da digitalização, cópias e plastificação.


A tabela seguinte apresenta a lista de símbolos a desenvolver pelos alunos e a incluir posteriormente numa prancha de símbolos pictográficos adequada ao aluno, (cada aluno ficará responsável por desenhar o(s) símbolo(s) correspondente(s) aos temas que lhe forem atribuídos (ex: alimentos, cores…). No caso da prancha relacionada com a família será pedida a colaboração dos pais do R. no sentido de disponibilizarem algumas fotografias relacionados com o seu universo familiar para que possam ser inseridas nesta prancha.
Serão desenhados pelos alunos símbolos pictográficos relacionados apresentados na Tabela I.

Tabela I - lista de símbolos pictográficos para a comunicação
Aulas
Biblioteca
Refeitório
Recreio
Alfabeto
Leitura
Alimentos
Estados de humor
Animais
Personagens
Pequeno-almoço
Brincadeiras preferidas
Números
Profissões
Fruta
Brinquedos
Cores

Almoço

Família

Jantar



Prevê-se a utilização das categorias e das cores do Sistema Alternativo de Comunicação SPC (Símbolos Pictográficos de Comunicação), tendo como base a "chave de Fitzgerald" utilizada no Sistema BLISS.

Resultados esperados


Pretende-se que a curto/médio prazo, através da implementação do SPC, o R. possa melhorar a sua capacidade comunicativa de forma a poder participar ativamente nas diversas atividades, organizar o seu raciocínio mais autonomamente e ter um maior controlo sobre si mesmo. É igualmente expectável que o aluno, ao melhorar a sua qualidade de vida, aumente também a sua autoestima, fator importantíssimo para potenciar a sua aprendizagem e o seu desenvolvimento global. Paralelamente, pretende despertar - se a consciência dos alunos para o reconhecimento progressivo das pessoas com deficiência como cidadãos de pleno direito.



Bibliografia

Bautista,R(coord.)(1997). Necessidades Educativas Especiais.Lisboa.Dinalivro.

Brasil. Saberes e Práticas de Inclusão: dificuldades de comunicação e sinalização/ deficiência física. 4.ed. Brasília: MEC/EESP, 2006.

Correia,L.M.(2008).Inclusão e Necessidades Educativas Especiais: Um guia para educadores e professores.Porto.Porto Editora

Ladeira, F.,Amaral, I(1999) A Educação de Alunos com Multideficiência nas Escolas de Ensino Regular. Lisboa. Ministério da Educação

Nogueira.C.(2009). Educação Especial-Comunicar com crianças com paralisia cerebral.Lisboa.Novembro

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1 comentário:



Concluímos, afirmando que as técnicas da Comunicação Alternativa e Aumentativa (CAA), permitem uma melhor expressão de quem tem dificuldade em exprimir-se e melhoram as relações com o mundo, pois a criança sente-se mais compreendida e aceite por quem a rodeia.




Bibliografia



Nogueira, C. (2009). Educação especial - Comunicar com crianças com paralisia cerebral. Editorial Novembro;



Outras publicações:



Comunicação, linguagem e fala, Perturbações Específicas de linguagem em contexto escolar, Ministério da Educação, 2003;



novação curricular na implementação de meios alternativos de comunicação em crianças com deficiência neuromotora grave;


Comunicação e linguagem - Sistemas Alternativos e Aumentativos da comunicação, Universidade Portucalense, 2008.

Para mais informação sobre os símbolos poderão consultar alguns sites: