Considerando que a inclusão é “ um processo que se desenrola ao longo
da vida de um indivíduo, e que tem como objetivo a melhoria da sua qualidade de
vida” (Ladeira e Amaral,1999), a escola deve ser muito mais do que o sítio onde
se aprende a ler e a escrever. Deverá ser também um local onde se aprende a viver,
a participar e a respeitar os outros e onde todos os alunos, com e sem NEE
devem ter como objetivo fundamental o seu sucesso na vida futura.
Assim, corroborando Mateus (2011) quando refere que qualquer criança
que alcance a capacidade de comunicar se torna um sujeito aberto aos outros,
que pode trabalhar e criar com eles, afirmando-se como indivíduo dentro do
grupo social, foi consentâneo entre os alunos e professores da turma que, dada
a impossibilidade do R. utilizar a fala como veículo da linguagem, seria
importantíssimo proporcionar-lhe a utilização de meios alternativos de
comunicação que possam potenciar a sua capacidade comunicativa e a sua
participação, de forma adaptada, nas atividades desenvolvidas pelo grupo/turma
em que está inserido. Pretende-se fundamentalmente que o meio alternativo de
comunicação adaptado ao R. aumente a qualidade das interações com os seus
parceiros e contribua, consequentemente, para desenvolver a sua inteligência
intelectual e pessoal.
Por outro lado, considera-se que
o plano de intervenção seguidamente apresentado poderá contribuir para a
criação de um ambiente educacional positivo e enriquecedor que permitirá que
todos os implicados, alunos, pais, professores, comunidade, escola aprendam um
pouco sobre cada um e sintam que “ todos juntos fazemos a diferença”.
A criança com Paralisia Cerebral deve ser incluída e usufruir de
experiências de aprendizagem, tanto quanto possível, na escola do ensino
regular. Neste sentido, devem ser adotadas um conjunto de medidas que permitam
a sua adaptação de uma forma confortável e segura. Assim, é fundamental começar
por avaliar quais as características da criança e as suas necessidades, para
posteriormente se elaborar um plano de intervenção adequado e que proporcione
os recursos necessários para uma aprendizagem plena. Isto requer, como refere
Bautista (1997) que a escola seja uma entidade autónoma que gere e propicie uma
organização interna capaz de acolher a diversidade.
Por outro lado, é essencial que esta intervenção se processe o mais cedo
possível, visto que, de acordo com o autor, a criança responderá com maior
eficácia a um tratamento precoce e que seja desenvolvido por uma equipa
multidisciplinar, que atue tanto sobre os problemas motores, como sobre os
problemas associados que a criança possa, eventualmente, apresentar.
A intervenção pode ser orientada com base em diferentes aspetos como
motricidade (recorre-se, por exemplo, à natação que favorece o desenvolvimento
muscular e a manutenção da mobilidade articular); cirurgia ortopédica (esta
deve ser evitada sempre que possível, já que implica longos períodos de
imobilizações desfavoráveis ao desenvolvimento do indivíduo); terapia da fala,
terapia ocupacional e fisioterapia; utilização de próteses ou outro material
ortopédico quando necessário (por exemplo: cadeira de rodas). No caso das
crianças impossibilitadas de comunicar através da fala deve recorrer-se a um
sistema aumentativo / alternativo de comunicação ajustado às suas necessidades.
Plano de Intervenção de um aluno com Paralesia Cerebral
O plano de intervenção que seguidamente se apresenta é o resultado de
uma perspetiva inclusiva da educação que confere, de acordo com Correia (2008)
o direito de estar na escola a qualquer criança, incluindo as que têm
deficiências graves, proporcionando-lhe a possibilidade de aumentar a
capacidade de comunicação, a sua participação em diferentes atividades e
oferecendo-lhe um meio menos restritivo e uma melhor qualidade de vida.
Com a finalidade de proporcionar ao R. as mesmas oportunidades de interação
com o outro será realizada por toda a equipa pedagógica uma análise e reflexão
cuidada acerca das estratégias a desenvolver para que o aluno, o mais
rapidamente possível, possa interagir não só com os professores como com os
restantes colegas e a comunidade em geral.
No caso do R. verificou-se a necessidade destas estratégias passarem
pela implementação de um Sistema Alternativo e Aumentativo da Comunicação
(SAAC). Com este sistema a criança terá oportunidade de expressar as suas
emoções, manifestar as suas necessidades e desejos e terá acesso a uma
linguagem interior e a uma organização de conceitos que irão favorecer o seu
desenvolvimento cognitivo, social e emocional.
Neste sentido, será posto em marcha um plano de intervenção no âmbito
da Comunicação Aumentativa e Alternativa que compreende um conjunto de ajudas e
estratégias de que é exemplo o sistema SPC.
No caso do R., a turma uniu esforços para que, tão breve quanto
possível, seja elaborada uma biblioteca de símbolos agrupados em várias
pranchas relacionados com o dia-a-dia do R. na escola e as suas necessidades
comunicativas nos diversos contextos em que se move: sala de aulas, refeitório,
biblioteca e recreio.
Será igualmente redigida, coletivamente, uma carta que será enviada a
várias empresas (centros de cópias) pedindo a sua colaboração para a
digitalização dos símbolos e criação das pranchas SPC (impressão e plastificação)
a partir dos símbolos criados pelos alunos.
Objetivos do plano de intervenção
Conforme referido anteriormente, a linguagem desempenha um papel fundamental no desenvolvimento cognitivo e emocional e é um regulador do comportamento do indivíduo.
Assim, quando uma criança está impossibilitada de comunicar através da fala devido a questões orgânicas do seu aparelho fonador, como é o caso das crianças com paralisia cerebral, ela pode, no entanto, apresentar capacidades e necessidades comunicativas se, como refere Nogueira (2009), não apresentar lesões cerebrais que as afetem do ponto de vista cognitivo e emocional. Por ser esta a situação em que o R. se encontra, no âmbito do plano de intervenção, foram definidos os seguintes objetivos:
Assim, quando uma criança está impossibilitada de comunicar através da fala devido a questões orgânicas do seu aparelho fonador, como é o caso das crianças com paralisia cerebral, ela pode, no entanto, apresentar capacidades e necessidades comunicativas se, como refere Nogueira (2009), não apresentar lesões cerebrais que as afetem do ponto de vista cognitivo e emocional. Por ser esta a situação em que o R. se encontra, no âmbito do plano de intervenção, foram definidos os seguintes objetivos:
·
promover capacidades comunicativas e
linguísticas do aluno com dificuldades de comunicação;
·
promover o acesso do aluno ao currículo e a sua
participação em todas as atividades;
·
melhorar a linguagem compreensiva;
·
melhorar o uso expressivo dos símbolos, de forma
a haver um aumento
do vocabulário;
·
aperfeiçoar a estrutura da frase fomentando a
utilização de estruturas sintáticas cada vez mais complexas;
·
promover a independência e autonomia possíveis
para gerir a sua vida;
·
aumentar a autoestima do aluno,
proporcionando-lhe um maior controlo sobre si mesmo;
·
desenvolver um espírito inclusivo e de
cooperação entre todos os alunos da turma.
Questões
a considerar na planificação do SAAC
Quando se
pretende desenvolver um SAAC devem ser consideradas algumas questões que devem
ser trabalhadas pela turma antes da elaboração, no caso concreto, dos símbolos
a aplicar nas pranchas SPC. Assim, sob a
orientação dos professores, deverão ser alvo de reflexão com os alunos, as
seguintes questões:
·
restrições
motoras do R.- Num SAAC baseado em símbolos gráficos, é necessário perceber
se as restrições motoras da criança condicionam a capacidade de indicar ao seu
parceiro comunicativo qual o símbolo que está a selecionar[1].
·
identificação
das necessidades comunicativas do R.– quais os símbolos a desenvolver em
primeiro lugar. Quais os símbolos que o R. mais necessita para comunicar no
contexto em que se move durante a maior parte do dia, no seu caso, a escola.
·
quais os
recursos disponíveis para gerar as soluções possíveis – que recursos existem e como ultrapassar a
barreira dos que não estão imediatamente disponíveis[2].
[1] As
restrições motoras do R. não condicionam totalmente a sua capacidade de indicar
os símbolos gráficos. Logo, o aluno utilizará um método de seleção direta em
que o utilizador aponta
[2] Neste
caso poderá pedir-se a colaboração de uma empresa especializada na área da
digitalização, cópias e plastificação.
A tabela seguinte apresenta a lista de símbolos a desenvolver pelos
alunos e a incluir posteriormente numa prancha de símbolos pictográficos
adequada ao aluno, (cada aluno ficará responsável por desenhar o(s) símbolo(s)
correspondente(s) aos temas que lhe forem atribuídos (ex: alimentos, cores…).
No caso da prancha relacionada com a família será pedida a colaboração dos pais
do R. no sentido de disponibilizarem algumas fotografias relacionados com o seu
universo familiar para que possam ser inseridas nesta prancha.
Serão desenhados pelos alunos símbolos pictográficos relacionados apresentados
na Tabela I.
Tabela I - lista de símbolos
pictográficos para a comunicação
Aulas
|
Biblioteca
|
Refeitório
|
Recreio
|
Alfabeto
|
Leitura
|
Alimentos
|
Estados de humor
|
Animais
|
Personagens
|
Pequeno-almoço
|
Brincadeiras preferidas
|
Números
|
Profissões
|
Fruta
|
Brinquedos
|
Cores
|
Almoço
|
||
Família
|
Jantar
|
Prevê-se a utilização das categorias e das cores do Sistema
Alternativo de Comunicação SPC (Símbolos Pictográficos de Comunicação), tendo
como base a "chave de Fitzgerald" utilizada no Sistema BLISS.
Resultados esperados
Pretende-se que a curto/médio prazo, através da
implementação do SPC, o R. possa melhorar a sua capacidade comunicativa de
forma a poder participar ativamente nas diversas atividades, organizar o seu
raciocínio mais autonomamente e ter um maior controlo sobre si mesmo. É
igualmente expectável que o aluno, ao melhorar a sua qualidade de vida, aumente
também a sua autoestima, fator importantíssimo para potenciar a sua
aprendizagem e o seu desenvolvimento global. Paralelamente, pretende despertar
- se a consciência dos alunos para o reconhecimento progressivo das pessoas com
deficiência como cidadãos de pleno direito.
Bibliografia
Bautista,R(coord.)(1997). Necessidades
Educativas Especiais.Lisboa.Dinalivro.
Brasil. Saberes e
Práticas de Inclusão: dificuldades de comunicação e sinalização/ deficiência
física. 4.ed. Brasília: MEC/EESP, 2006.
Correia,L.M.(2008).Inclusão
e Necessidades Educativas Especiais: Um guia para educadores e professores.Porto.Porto
Editora
Ladeira, F.,Amaral, I(1999) A Educação de Alunos com Multideficiência nas Escolas de Ensino Regular.
Lisboa. Ministério da Educação
Nogueira.C.(2009). Educação
Especial-Comunicar com crianças com paralisia cerebral.Lisboa.Novembro
Suporte eletrónico
Mateus (2011) Intervenção em Problemas Motores [Ciências de Educação, área de Educação E. D. C.
(ISDOM)] in http://moodle.ulusofona.pt/acedido em 4 e 5 de fevereiro, de
muito bem transmitido a ideia dos saac..
ResponderEliminarblog muito completo.
obrigada pela partilha.
beijocas